BOLETIM INFORMATIVO RÁDIO VATICANO - 04/03/2016
Dom Stefano Ferrando da Sociedade Salesiana de São João Bosco, Arcebispo titular de Troina, bispo emérito de Shillong, fundador da Congregação das Irmãs Missionárias de Maria Auxiliadora dos Cristãos. Ele nasceu em 28 de setembro de 1895 e morreu em 20 de junho de 1978.
Juntamente com a oração outro meio para obter o Espírito Santo é a retidão de intenção. A intenção ao pregar Cristo pode ser poluída por várias causas. São Paulo elenca algumas na Carta aos Filipenses: por conveniência, por inveja, por espírito de disputa e de rivalidade (Fl 1, 15-17). A causa que engloba todas as outras, no entanto, é uma só: a falta de amor. São Paulo diz: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como bronze que soa ou como o címbalo que retine" (l Cor 13,1). A experiência me fez descobrir uma coisa: que se pode anunciar Jesus Cristo por motivos que não têm nada a ver com o amor. Pode-se anunciar por proselitismo, para encontrar, no aumento do número dos seguidores, uma legitimidade da própria pequena igreja, especialmente se própria ou de recente fundação. Pode-se anunciar, interpretando literalmente uma frase do Evangelho, para levar o Evangelho aos confins da terra (cf. Mc 13, 10), de modo a preencher o número dos eleitos, e apressar a volta do Senhor. Algumas dessas razões não são em si ruins. Mas por si só não são suficientes. Falta aquele genuíno amor e compaixão pelos homens que é a alma do Evangelho. O Evangelho do amor só pode ser anunciado por amor. Se não nos esforçamos para amar as pessoas que temos em frente, as palavras se transformam facilmente em pedras que ferem e das quais é necessário defender-se como de uma tempestade de granizo. Sempre tenho perante os olhos a lição que a Bíblia, implicitamente, nos dá com a história de Jonas. Jonas é forçado por Deus para ir a Nínive pregar. Mas os ninivitas eram inimigos de Israel, e Jonas não gostava dos ninivitas. Ele está visivelmente contente e satisfeito quando pode gritar: "Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída!”. A perspectiva não parece desagradá-lo nenhum pouco. Só que os ninivitas se arrependem e Deus lhes poupa do castigo. Neste momento Jonas entra em crise. “Tiveste compaixão disse Deus quase desculpando-se - de um arbusto... E então, não hei de ter compaixão da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil seres humanos, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda” (Jn 3, 10 ss). Deus deve fazer mais esforço para convertê-lo, o pregador, do que para converter todos os habitantes de Nínive! Amor, então, pelos homens. Mas também e acima de tudo amor por Jesus. É o amor de Cristo que nos deve motivar. “Me amas? disse Jesus a Pedro Apascenta as minhas ovelhas” (cf. Jo 21, 15 ss). É preciso amar a Jesus, porque só quem está apaixonado por Jesus pode proclamá-Lo ao mundo com profunda convicção. Só se fala com paixão daquilo que se está apaixonado. Proclamando o Evangelho, tanto com a vida quanto com as palavras, nós não damos a Jesus só a glória, damos-lhe também alegria. Se é verdade que “a alegria do Evangelho preenche o coração e a vida daqueles que se encontram com Jesus[8]”, é verdade também que quem difunde o Evangelho enche de alegria o coração de Jesus. A sensação de alegria e bem-estar que uma pessoa experimenta ao sentir de repente voltar o fluxo da vida em um dos seus membros, até então inerte ou paralizado, é um pequeno sinal da alegria que Cristo experimenta quando sente o seu Espírito voltar a vivificar algum membro morto do seu corpo. Há, na Bíblia, uma palavra que eu nunca tinha notado antes: "Como o frio da neve no tempo da colheita é o mensageiro fiel para com os que o enviam; ele refrigera a alma do seu Senhor" (Pv 25, 13). A imagem do calor e do frio faz pensar em Jesus na cruz gritando: "Tenho sede!". É ele o grande “ceifeiro” sedento de almas, que somos chamados a refrescar com o nosso humilde e devoto serviço ao Evangelho. Que o Espírito Santo, “principal agente da evangelização”, nos conceda dar a Jesus esta alegria, com as palavras ou com as obras, segundo o carisma e a tarefa que cada um de nós tenha na Igreja.
[3] DV, 2.
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